Elas são melhores, até na cozinha

Chefs tiveram a competência de transformar o prazer em cozinhar em negócio, rentável e com muitas possibilidades

Ligia Rodrigues, chef de cozinha daConfraria do Espanhol (Karlos Geromy/ O Imparcial)

Bem sucedidas naquilo que fazem, chefs de cozinha mesmo com as dificuldades nos negócios enfrentados por todos que decidem empreender, conseguem com sutileza renovar as energias a cada dia e executar o trabalho com prazer. Profissão que, ironicamente, no passado, tinha como maioria os profissionais do sexo masculino.
Focadas em promover experiências saborosas para os clientes, as chefs Ana Lula e Ligia Rodrigues têm em comum a visão dedicada aos negócios que comandam sem perder o carinho na preparação de alimentos.
Prazer em servir
São mais de 30 anos compartilhando o gosto pela cozinha com clientes em São Luís, e o tempero de Ana Lula ou Juja, como é conhecida, de 63 anos, está nas comidas regionais que ela faz questão de preparar e, principalmente, no carinho em receber.
Mãe de três filhos, avó de seis netos, a cozinheira defende a máxima que “cozinha é lugar de todos”, principalmente daquelas mulheres que estão dispostas a compartilhar carinho através da reunião em volta da mesa, e tornar esse prazer em transformar os alimentos em negócio, não qualquer um, mas negócio rentável.
“As mulheres estão indo para cozinha para ganhar dinheiro, para complementar a renda ou fazer renda única. Isso é possível fazendo um doce, seja fazendo um prato ou vários, e não precisa nem ela abrir um restaurante pra isso, ela pode simplesmente divulgar nas redes sociais e pronto! Já tem cliente no dia seguinte, ela já tem cliente. Sem precisar ter gastos com local, custo de com funcionário, aluguel. Quando você fez bem feito, ninguém tem que se preocupar com endereço… Eles vão onde a comida boa está”, pontua Ana Lula.
Após 19 anos no comandando do extinto Restaurante Antigamente, no Centro Histórico, Ana decidiu abrir o Casa de Juja – Ateliê Gastronômico. No restaurante, que já faz parte do roteiro de muitos na cidade, inclusive de turistas, o cardápio chama a atenção pela fartura dos pratos e 90% das receitas são autorais. A decoração do local cheio de “pindurações”, como a própria chef gosta de chamar, é outro atrativo repleto de cor e simpatia, ideal para os registros fotográficos.
Todos os detalhes do local foram pensados por Ana Lula, que está sempre inovando na cozinha, no modo de servir e nos atrativos da casa para sempre atrair novos clientes. Por isso, acordar às 6 horas da manhã para ir do Vinhais à Cohab comprar os peixes que prepara e passar horas escolhendo o melhor produto não é nada se comparado com os diversos comentários que ela recebe dos clientes e faz questão sejam anotados em caderno especial para recados.
“Hoje eu tenho um prazer em tudo que faço aqui no restaurante. Faço questão de ir buscar meu peixe, de escolher. Pesquiso muito para encontrar o melhor, olho um por um. São detalhes importantes para que, quando a pessoa for comer, ela sinta o sabor do mar, por ser um alimento fresco. Eu não me importo de ir 6h da manhã na feira da Cohab. Faço isso com muita paixão, não tenho preguiça, cansaço e eu vejo esse resultado indo para o prato do meu cliente”, acrescenta.
Os convites para festivais de gastronomia ampliaram a fama do tempero de Juja, que hoje tem um espaço conquistado com dedicação, sabedoria e muito trabalho. E que ela não deve mexer tão cedo mesmo com os convites para mudar de endereço e abrir filiais.
“Cozinhar é paixão! É você gostar de comer e gostar que as pessoas comam e fiquem felizes e digam que gostaram da comida. Não tem coisa melhor do que, ao deitar, ler o meu livro com as mensagens dos meus clientes. É um balsamo”, finaliza Ana Julia.

Ana Lula, chef na Casa de Juja – Ateliê Gastronômico(Karlos Geromy/ O Imparcial)

Concretizando um sonho
A vontade de manter o negócio após o falecimento do marido, chef de cozinha da primeira Confraria do Espanhol inaugurada em 2009, fez com que a administradora Ligia Rodrigues, de 52 anos, se tornasse a chef e desafiasse a crise. “O gosto pela cozinha eu sempre tive e o entusiasmo do meu marido era muito grande, porque ele foi chef na Espanha, trabalhou em Madrid, então, os ensinamentos, fora a graduação em Gastronomia, foram dele, com a prática dentro do restaurante. E isso foi fundamental”, acrescenta.
Bem no auge dos problemas econômicos enfrentado pelo país a cozinheira decidiu tocar o sonho do casal e abriu há oito meses a Confraria do Espanhol em novo endereço, com uma proposta requintada e que exige pulso firme para lidar com o negócio e as adversidades.
“Eu tinha que enfrentar só. Quando eu mudei pra cá, as pessoas me achavam louca de reinaugurar o restaurante em plena crise. Foi uma dimensão bem maior em relação ao restaurante anterior e eu entrei com tudo, de cabeça, para fazer e acontecer. Eu não podia ficar parada e precisava render o que já tinha investido”, lembra Ligia.
Com o jeito especial da mulher em lidar com as situações adversas, ela tem conseguido manter o restaurante no novo espaço no bairro Calhau. As paellas são o carro-chefe do restaurante e atraem apreciadores pelo sabor e o colorido da receita que mistura vários ingredientes, mas, para agradar a todos, no cardápio também se destacam o mix de carnes vermelhas e peixes. A Confraria do Espanhol trouxe de volta a seus clientes os sabores da cozinha espanhola. A decoração rústica com o vermelho em destaque, leques espanhóis fixados na parede, arandelas e quadros de toureiro lembram a Espanha.
A fase crítica foi superada, porém, ela mantém firme o pulso para manter nível do serviço, mesmo driblando a crise que ainda é muito presente nos negócios. Ligia garante que, apesar do jogo de cintura que ela tem que ter sempre, valeu a pena. “Valeu a pena porque foi um sonho que realizei em fazer uma dimensão bem maior do restaurante com uma repaginada nova. O meu desafio foi concretizado. Quando eu vejo tudo isso, eu me sinto realizada de saber que eu consegui”.
Renovação e novos projetos são sempre pensados para fugir da mesmice e atrair clientes, como aconteceu com o lançamento da paella maranhense, prato solicitado pelos frequentadores do local e querido por muitos. Ideias necessárias para que o sonho e todo esforço possa sempre ser renovado com a admiração de quem passa pelo restaurante. Jeitinho feminino que, por incrível que pareça, ainda surpreende aqueles que descobrem quem administra e cozinha na Confraria do Espanhol.
“Quando os clientes pedem para me chamar e me conhecer, eles ficam assustados, por eu ser mulher, porque as pessoas acham que não temos um diferencial de tocar um negócio, porque acham que as mulheres só administram se tiver um homem do lado. Isso me deixa muito orgulhosa. É gratificante quando elas chegam, olham a estrutura e dizem como é maravilhoso e que era isso que estavam precisando em São Luís. É gratificante saber que foi eu que botei cada coisinha no lugar, idealizei tudo”, finaliza.

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